sábado, 2 de junho de 2012

Olhos Verdes Cristalinos - parte 15/80




12 - A Descoberta de Marco
               
Marco acordou naquele mesmo beco de Londres, cidade onde vivia, com muitas dores e sem os documentos ou dinheiro. Junto com seu corpo estava um mendigo com um profundo corte no pescoço, mas que ainda vivia. Num impulso incontrolável, Marco se aproximou dele e os cheiros fétidos que pairavam no ar, foram se distinguindo. A podridão da viela, o suor, a umidade, o lixo e a bebida já não suplantavam um aroma que até então ele nunca havia sentido com tanto frescor e doçura. O cheiro de sangue.
Aproximou-se ainda mais e viu que o homem quase sem vida balbuciava algo incompreensível. Pegou na mão do indigente, viu que ele piscou num reflexo, mas desta curta distância, o cheiro do sangue era o único a ser percebido. O sangue vertia e o vermelho vibrava mesmo na sombra, como se tivesse luz própria, como se as cores se recompusessem ou até como se Marco estivesse sob efeito de alucinógenos.
Tocou o sangue com a mão, mesmo temeroso. Sentiu seu calor, sua viscosidade. Seu corpo tremeluziu e um arrepio percorreu-lhe a cervical. Percebeu também que os músculos de sua face se contraiam fortemente e que seus olhos viravam. Parecia que iria convulsionar. O tremor se ampliou quando ainda temeroso levou a mão ensangüentada à boca e viu passar em sua mente as imagens de todas as doenças, síndromes e males transmitidos pelo sangue e estudados em sua graduação. Nada disso importava; tocou a mão com a língua.
Sugou com volúpia o sangue em sua destra, aumentando assim o tremor, a tensão e o prazer. Sentiu-se excitado como nunca na vida e olhou rapidamente para os lados enquanto seu corpo já se inclinava sobre o corpo que sucumbia à ferida. Pôs-se a sugá-lo.
Sentiu que algo lhe rasgava as gengivas, Afastou o pensamento recorrente das doenças, da ética, da lei, da ordem e entregou-se ao prazer. O sangue não vertia com tanta pressão quanto a princípio, então ele aprofundou a ferida, achando a carótida, com seus novos e enormes caninos. Ao terminar de dilacerar o pescoço do infeliz moribundo e lamber freneticamente o sangue que ainda lhe escorria pelas mãos, sentiu novamente uma dor nas gengivas, como se um ciso as rompesse, mas na direção inversa. A dor lhe trouxe a consciência e a realidade. O que fizera? Só podia fugir o mais rápido que pudesse e tentar esquecer os fatos funestos dessa noite londrina.

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