domingo, 27 de maio de 2012

Olhos Verdes Cristalinos - parte 14/80


Continuação de Olhos Verdes Cristalinos...

Segui seu olhar e achei a cadeira, nas primeiras filas. Era ela. Rapidamente ela virou para trás e ele se pôs a correr atrás dela, que num rápido movimento saltou por sobre algumas cadeiras e correu em direção aos banheiros. Pude prever o que ocorreria e eu tinha que fazer alguma coisa, mas o quê? Fiz o que pude. Segui-os furtivamente pelo corredor até a entrada do banheiro feminino. Eles tinham que estar ali.
Entrei lentamente me concentrando para apurar a audição ainda que pelo outro lado da porta. Não precisaria tanto. Aos berros, que encobriam o som de meus passos no piso branco, se ouviam as frases do fanático.
- Saia besta dos infernos, que teu destino a aguarda! - e eu o acompanhava poucos passos atrás, sem ser percebido. De box em box ele gritava e em seguida chutava a porta, de espada em punho.
- Que Deus tenha piedade de sua alma, se alguma ainda restar nesse teu corpo fétido de pecado demoníaco! - Restavam apenas quatro gabinetes. -- Morra demônio da devassidão! -- Restavam agora três. De repente ele se virou de espada em punho olhando na minha direção. Reparei que segurou mais forte o punho e tencionou um pouco mais os braços antes de se virar. Olhou para o espelho e viu sua face envelhecida e cansada, seu terno desalinhado, o piso branco, seu sobretudo e a bainha no chão. Defronte a penúltima porta ele virou-se novamente e achei aí que desta vez ele havia sentido a minha presença. Mas não. Era o vento gelado da morte que soprava naquela direção.


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Ele olhou por baixo da porta e vimos então as botas da moça. Ele então respirou fundo e avançou. Com um chute, a porta se escancarou e pude ver que daquela bela moça só restaram às botas, tudo o mais já havia deixado de existir.
O gabinete estava vazio e eu então não consegui conter o riso. Ele se virou e a outra porta voou, de dentro para fora e o grito de ira do pobre religioso se confrontou com um urro que fez gelar a morte.
A partir daí tudo foi muito rápido. A enorme pata desferiu contra a cabeça do homem, que veio parar como uma bola em minhas mãos. Como se eu tivesse parado o tempo, enquanto seu tronco caia sem vida, tingindo de vermelho o gelado chão do banheiro, pude ver de perto o horror em sua face. Queria falar algo, mas eu só sentia prazer. Segurando sua cabeça defronte a minha, olhei no fundo daqueles olhos aterrorizados e mortos, sorri e lhe beijei os lábios. Eu jamais esquecera um rosto.
Saindo de meu transe, larguei a cabeça abrindo lentamente os braços e com os olhos ainda fechados. Meu gesto fez lembrar o crucificado e a cabeça decepada tal qual a de João Batista, por fim caiu, fez um baque seco e rolou. Ao levantar as pálpebras, percebi que estava visível novamente. E mais uma vez, tive a certeza de que não me enganara, eu reconhecia também aqueles olhos, mas agora e ainda mais agora, a fisionomia dela estava muito modificada. Nossos olhares se cruzaram de novo antes que ela partisse.
Sobre o chão, um corpo sem vida, uma cabeça, uma bela espada japonesa que levei comigo, um, sobretudo que pego para esconder o sangue em minha roupa e a própria arma prateada e no piso branco, sangue, como tinta rubra sobre um sulfite alcalino. Mas tinha mais alguma coisa que não me saia da cabeça... Sim, eram eles... Aqueles olhos... Olhos verdes cristalinos.

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