segunda-feira, 9 de abril de 2012

CC Persona - Tinta Rubra 2004 - capítulo I



Capítulo I – Fernando

                - Sinto muito incomodá-los à esta hora da noite – disse o rapaz ao homem que o atendia na porta.
                - Não é incomodo nenhum... Estávamos o esperando, e não seria delicado o fazer dormir num hotel qualquer esta hora.
                - Obrigado... Onde posso deixar minha mochila?
                - Coloque-a aqui; vou levá-lo à lanchonete para você tomar um chocolate quente; esta noite está fria!
                - Ah, eu nem senti isso muito... - pensou Marco, tentando imaginar uma maneira de iludir seu bondoso anfitrião.
                No momento ele não sentia fome ou sede, embora se os sentisse, não poderia dizer àquele homem, que provavelmente não iria entender sua necessidade. Já se alimentara, de uma maneira discreta e não muito violenta, de forma que naquele momento se sentia quase humano, e o tratamento que aquele homem lhe dispensava trazia à sua mente gentis professores da faculdade.
                Não sabia muito bem o porquê daquela parada. Enfim, depois de muito tempo, tomara coragem para voltar ao Brasil, para descobrir se poderia encarar seu pai novamente. No entanto, logo na sua chegada a São Paulo, descobrira que seu pesadelo não iria ficar distante.
                No aeroporto, fora reconhecido por um antigo colega de escola, que o cumprimentara de maneira efusiva no saguão, e logo oferecera carona para a cidade natal dos dois. Marco, desesperado pela coincidência, e afetado pela fome, não soubera como recusar a oferta. Mas no momento em que iria acompanhar seu amigo, fora surpreendido por uma mulher, que o agarrara pelo braço e fizera uma cena. O amigo, ainda por cima, brincara com ele, dizendo 'este é um bom motivo para ter sumido' e para seu alívio (pelo menos nisso) fora embora. A mulher então parou com a bagunça, e o arrastou pelo braço para um café vazio.
                -Quem é você? Porque fez isto?
                -Quem sou eu, não interessa muito no momento. Basta dizer que eu sei o que você é... Eu sou o que você é. E fiz este favor para você – não faça esta cara de espanto, qualquer um poderia perceber seu pânico, mas para mim não importa, agora você me deve um favor...
                Marco não queria se ver envolvido em nenhuma teia de intrigas, mas o pedido daquela estranha mulher lhe pareceu inofensivo.
                -Você precisa apenas entregar um objeto para uma pessoa no Portador da Luz. Peço que não abra o pacote, apenas chegue no Centro, procure a pessoa que vou lhe indicar, e lhe entregue o pacote...
                Marco já tinha ouvido falar no Centro, uma espécie de centro de estudos ecumênicos num subúrbio da cidade, um lugar no mínimo caricato.
                -Porque você mesma não pode entregar?
                -Você conhece nossa natureza... Eu fui ligada a uma garota conhecida lá, e agora esta garota está morta. Não posso voltar lá.
                Marco por um momento se assustou, mas lembrou dos próprios momentos de descontrole, e entendeu um pouco os motivos da garota. Apesar de seu olhar frio, ela parecia ter algo escondido no canto de seus olhos. Em certo momento, ela lhe dissera estar 'naquela vida' há 50 anos. Ficou imaginando se um dia chegaria a isso...
                Agora ele estava no centro. Era um lugar ainda mais curioso do que as lendas que corriam na sua adolescência. Embora fosse noite, tinha muita gente lá; hippies e wiccans espalhados por todos os lados. O homem que o recebera apenas o levara à lanchonete com a recomendação de um chocolate bem quente; Marco conseguiu se livrar dele fácil, dando-o para um moleque que parecia estar faminto rodeando as mesas.
                A mulher que ele estava procurando se chamava Ana. Isso, e uma descrição breve eram o que o guiava. Achou estranho que uma mulher aparentemente tão rica estivesse num lugar destes, mas a vampira lhe dissera que ela estava ali apenas por ser um lugar neutro, onde ela também não era conhecida.

Leia agora a continuação de Verena Peres...



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