Capítulo I – Fernando
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Sinto muito incomodá-los à esta hora da noite – disse o rapaz ao homem que o
atendia na porta.
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Não é incomodo nenhum... Estávamos o esperando, e não seria delicado o fazer
dormir num hotel qualquer esta hora.
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Obrigado... Onde posso deixar minha mochila?
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Coloque-a aqui; vou levá-lo à lanchonete para você tomar um chocolate quente;
esta noite está fria!
-
Ah, eu nem senti isso muito... - pensou Marco, tentando imaginar uma maneira de
iludir seu bondoso anfitrião.
No
momento ele não sentia fome ou sede, embora se os sentisse, não poderia dizer
àquele homem, que provavelmente não iria entender sua necessidade. Já se
alimentara, de uma maneira discreta e não muito violenta, de forma que naquele
momento se sentia quase humano, e o tratamento que aquele homem lhe dispensava
trazia à sua mente gentis professores da faculdade.
Não
sabia muito bem o porquê daquela parada. Enfim, depois de muito tempo, tomara
coragem para voltar ao Brasil, para descobrir se poderia encarar seu pai
novamente. No entanto, logo na sua chegada a São Paulo, descobrira que seu
pesadelo não iria ficar distante.
No
aeroporto, fora reconhecido por um antigo colega de escola, que o cumprimentara
de maneira efusiva no saguão, e logo oferecera carona para a cidade natal dos
dois. Marco, desesperado pela coincidência, e afetado pela fome, não soubera
como recusar a oferta. Mas no momento em que iria acompanhar seu amigo, fora
surpreendido por uma mulher, que o agarrara pelo braço e fizera uma cena. O
amigo, ainda por cima, brincara com ele, dizendo 'este é um bom motivo para ter
sumido' e para seu alívio (pelo menos nisso) fora embora. A mulher então parou
com a bagunça, e o arrastou pelo braço para um café vazio.
-Quem
é você? Porque fez isto?
-Quem
sou eu, não interessa muito no momento. Basta dizer que eu sei o que você é...
Eu sou o que você é. E fiz este favor para você – não faça esta cara de
espanto, qualquer um poderia perceber seu pânico, mas para mim não importa,
agora você me deve um favor...
Marco
não queria se ver envolvido em nenhuma teia de intrigas, mas o pedido daquela
estranha mulher lhe pareceu inofensivo.
-Você
precisa apenas entregar um objeto para uma pessoa no Portador da Luz. Peço que
não abra o pacote, apenas chegue no Centro, procure a pessoa que vou lhe indicar,
e lhe entregue o pacote...
Marco
já tinha ouvido falar no Centro, uma espécie de centro de estudos ecumênicos
num subúrbio da cidade, um lugar no mínimo caricato.
-Porque
você mesma não pode entregar?
-Você
conhece nossa natureza... Eu fui ligada a uma garota conhecida lá, e agora esta
garota está morta. Não posso voltar lá.
Marco
por um momento se assustou, mas lembrou dos próprios momentos de descontrole, e
entendeu um pouco os motivos da garota. Apesar de seu olhar frio, ela parecia
ter algo escondido no canto de seus olhos. Em certo momento, ela lhe dissera
estar 'naquela vida' há 50 anos. Ficou imaginando se um dia chegaria a isso...
Agora
ele estava no centro. Era um lugar ainda mais curioso do que as lendas que
corriam na sua adolescência. Embora fosse noite, tinha muita gente lá; hippies
e wiccans espalhados por todos os lados. O homem que o recebera apenas o levara
à lanchonete com a recomendação de um chocolate bem quente; Marco conseguiu se
livrar dele fácil, dando-o para um moleque que parecia estar faminto rodeando
as mesas.
A
mulher que ele estava procurando se chamava Ana. Isso, e uma descrição breve
eram o que o guiava. Achou estranho que uma mulher aparentemente tão rica
estivesse num lugar destes, mas a vampira lhe dissera que ela estava ali apenas
por ser um lugar neutro, onde ela também não era conhecida.
Leia agora a continuação de Verena Peres...
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