Outro
dia encontrei um semelhante que parecia estar mais assustado que eu na época de
sobrevivente. O mais incrível foi que nos olhávamos nos olhos e em determinado
momento quando desviei a atenção e perdi o contato visual por uma fração de
segundos, ele desapareceu por completo. Nunca havia visto poder assim e a
partir deste dia passei a persegui-lo para que ele me explicasse como usar esse
dom.
Sei
que ele não se tele portou, na verdade tenho essa impressão, isto é, só fui
capaz de analisar posteriormente, que ele não havia saído do lugar. Sabemos
identificar, com o tempo, quando visualizamos outro de nós. Alguns se denunciam
mais facilmente do que outros. O porquê disso, não consegui saber ainda. Talvez
consiga desenvolver essa energia a ponto dela não ser identificada por outros
de nós e identificá-los em contrapartida, com mais facilidade.
Que sorte a minha! É ele e coincidência ou não
ele está novamente na mesma travessa onde nos encontramos da última vez. Hoje não
estou caçando, mas parece que ele está espreitando uma vítima.
Ele
se movimenta rápido, também possuo este dom. Será que descendemos de uma mesma
linhagem? Vou observá-lo. Ele passou a frente da vítima. O homem está indo em
sua direção agora e parece que ele está invisível para sua vítima, mas como se
eu o estou vendo? Este poder deve influenciar a mente do oponente. Só pode ser.
É realmente fascinante. Tenho que segui-lo e descobrir mais sobre ele. É o que
farei.
O
vampiro precipitou-se sobre sua vítima de uma maneira incompreensível para ela.
Infelizmente pela surpresa e pela velocidade a vítima não deve ter tido tempo
nem de saber o que a atacou. Talvez ele não tenha tido tempo nem ao menos de
ver passar suas memórias e saber que finalmente estaria indo ao encontro de
Deus.
Será
que um dia eu irei ao encontro Dele? Mesmo tendo herdado a maldição de não
andar sob seus olhos? Se é que ele realmente existe ou a maldição não seria
apenas mais uma das lendas descritas no livro dos hebreus.
Devaneios
a parte, após passar o estágio eufórico e descontrolado em que normalmente nos
encontramos após a ingestão de grande quantidade de sangue, meu alvo se mostrou
mais descuidado e pude segui-lo, com certa facilidade. Ele se esconde pelos
arredores de onde caça. Como um animal selvagem que detém poder sobre um
território demarcado com sangue e mistério.
Resolvi
não abordá-lo hoje, até porque a madrugada já avança para a aurora. Mas resolvi
treinar por mim mesmo esse dom do desaparecimento.
Curiosidades: “O Desaparecimento
do Vampiro” é o primeiro texto do livro no gênero memórias. Pode confundir um
pouco o leitor a princípio, mas faz também com que ele entre no pensamento do
vampiro e veja e sinta mais ou menos como ele. É o primeiro contato também do
leitor com algo do Universo Vampírico, uma habilidade que nós mortais não
possuímos, desaparecer. Vemos essa e outras habilidades vampíricas na
literatura ou no cinema, mas ninguém havia se proposto a explicá-las. Até
agora.
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